quinta-feira, 18 de maio de 2017

O "mimimi" que dá certo

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Ontem fui a um evento de comunicação na faculdade e presenciei dois momentos bem diferentes. O primeiro, lamentável. O segundo, esperançador.

Ainda que esses superpoderes não sejam capazes de acabar com a fome ou conquistar de vez a paz mundial, quem estuda comunicação sabe o poder que a mídia tem. Nada é apenas uma propaganda, uma notícia, um programa. Tanto para o bem, quanto para o mal, a ela produz, reproduz e deixa de reproduzir ideias para a massa. É aí que nós, futuros comunicadores, temos que respirar e pensar: "Grandes poderes, grandes responsabilidades".

Era uma mesa redonda com três personagens: um apresentador de programa policial que viralizou, um deputado estadual que levanta a bandeira das minorias, e uma ativista feminista negra. O tema era "O que é 'mimimi'?" e, pelo o que eu entendi, a proposta era debater sobre a opinião do público exposta nas redes sociais com a propaganda. A proposta do evento era, inclusive, quebrar rótulos e promover um mercado publicitário com mais diversidade.

Massa.

Até um dos entrevistados começar a falar. Não vou dizer seu nome, mas todos do estado vão saber de quem estou falando. Um apresentador de programa policial que faz gracinhas num show de violência urbana e acabou virando meme. Se você não sabe exatamente quem é, nem precisa. Ele não é o único do tipo por aí. Aliás, alguém precisa diferenciar jornalismo de stand up comedy urgentemente, principalmente quando se lida com um problema social tão sério quanto a violência urbana. Mas não foi exatamente sobre isso que eu vim falar aqui hoje.

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Para início de conversa, ele começou a falar fugir do tema falando da própria vida. Mas ele é engraçado, tudo bem. Deixa ele falar. Cada um aproveita os 15 minutos de fama como pode, não o culpo. O mediador então tentou de todas as formas não fugir do propósito, e até que conseguiu, quando começaram a falar da objetificação da mulher, tendo como exemplo as famosas propagandas de cerveja.

Xiiiii.

Foi nessa hora que ele interrompeu a fala do outro convidado, e depois, da convidada, para dar sua opinião. Cá pra nós, falou merda, heim. Mas tudo bem, ele estava ali para dar sua opinião. Ele é uma figura popularesca daqueles tipos que é a cara e a voz do senso comum, Não dava para esperar outra coisa, e de certa forma, nada mais do que normal ter opiniões contrárias numa mesa redonda.

O que me deixou surpresa foi a reação do público. Não que seja tão surpreendente assim, olhando bem, mas eu sempre sou otimista. Não esperava que um auditório de jovens universitários, estudantes de jornalismo e publicidade, iriam concordar que estava ok continuar com propagandas que objetificam a mulher, porque a modelo "não foi tirar a foto pelada com uma arma na cabeça". Risos, aplausos, grito. Mito. Eu me perguntei se eu estava no lugar certo. Infelizmente sim.

"Ah, mas é só uma propaganda. Até parece que deixar de mostrar uma propaganda vai acabar com o machismo".

Really? Eu ouvi isso da boca de quem diz ser jornalista? Eu ouvi futuros comunicadores aplaudindo?

E a cada comentário problemático e preconceituoso, mais a platéia se deliciava e ele se empolgava. Ainda bem que eu não estava sozinha, e mesmo que eu não tenha conseguido fazer minha pergunta e dito o que eu queria dizer para colocar aquele homem no lugar dele, outra mulher falou no meu lugar. Então a mesa foi encerrada, com ânimos bem aflorados. A multidão fez fila para tirar foto com o showman.

Naquele momento, me senti mais ou menos como quando o Trump ganhou a eleição. Como tanta gente concorda com essas ideias? O que me assusta mais nem é quem fala, é quem concorda. É quem acha que o mundo tá chato demais e que o bom mesmo e persistir nos erros do passado. Na propaganda, no jornalismo, no dia-a-dia. Tenho mais medo de quem aplaude do que de quem é aplaudido.

 No pequeno mundinho do auditório da faculdade, por enquanto, ele venceu. Até a próxima palestra.

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Sabe aquela propaganda da Skol que recriava os antigos posters hipersexualizados? O cara que mudou a imagem da marca em prol da diversidade e fez campanhas maravilhosas estava lá. Foi maravilhoso. Um bom exemplo para um péssimo exemplo.

Porém, nada é tão bonitinho assim.  A gente sabe que uma empresa visa nada mais nada menos que o lucro e o posicionamento da marca só muda porque o pensamento das pessoas muda também. E que bom que finalmente alguém percebeu que diversidade também vende. Vamos desapegar de Karl Marx e perceber que é melhor um oportunismo positivo, uma mensagem legal, que aquela velha opinião formada sobre tudo.

É claro que isso não veio do nada. Não só no caso da Skol, mas esse mundão nosso tá mudando graças a tanto "mimimi". O grande barato da internet é justamente esse: estamos sendo ouvidos, e cedo ou tarde, a resposta vem. Seja ela qual for.

Que bom que depois da lamentável fala do apresentador de programa policial e de tantos aplausos, sentei em frente ao computador e li outros textos como esse. Pessoas que, do seu jeitinho, não ficam mais caladas com os absurdos que escutam.

E é por isso que estou aqui, nesse lugar sem lei que é a internet, passando minha mensagem. Em meio a tanto amor e a tanta coisa ruim, às vezes dá até uma canseira e vontade de deixar tudo para lá. Mas não. No meio disso tudo, eu percebi que não estamos falando para as paredes, e de grão e grão a galinha enche o papo. E de "mimimi" em "mimimi", os pensamentos mudam.

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